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| Inclusão de estação de recarga veicular e carros elétricos na lista de produtos do imposto seletivo são tema de discussão no congresso - Foto: José Cruz/Agência Brasil | 
Câmara incluiu carro elétrico e apostas no Imposto Seletivo
Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil
      Após mais de dois meses de discussões, o projeto de lei        complementar de cerca de 600 páginas que regulamenta a reforma        tributária sobre o consumo recebeu as primeiras mudanças na Câmara        dos Deputados. A nova versão do texto não incluiu as carnes na        lista de produtos da cesta básica que terão isenção do futuro        Imposto sobre Valor Adicionado (IVA).
      Os deputados incluíram carros elétricos e apostas no Imposto        Seletivo, também conhecido como imposto do pecado. Os        parlamentares também criaram a figura jurídica no nanoempreendedor        e alteraram levemente a lista de medicamentos que terão alíquota        zero e alíquota reduzida.
      As mudanças em relação ao texto original do governo, enviado no        fim de abril, não são definitivas. O projeto pode receber emendas        durante a tramitação em plenário. O presidente da Câmara dos        Deputados, Arthur Lira, disse que pretende votar o texto na        próxima semana.
      Diferentemente da proposta de emenda à Constituição (PEC) da        reforma tributária, que exigia três quintos dos votos para ser        aprovada (308 na Câmara e 49 no Senado), o projeto de lei        complementar exige maioria absoluta. Isso equivale à metade mais        um dos parlamentares (257 votos na Câmara e 41 no Senado).        Diferentemente da PEC, a votação ocorre apenas em um turno, não em        dois. O texto, no entanto, pode voltar à Câmara caso sofra        mudanças no Senado.
      As mudanças foram inseridas por um grupo de trabalho criado no        fim de maio composto pelos seguintes deputados: Claudio Cajado        (PP-BA), Reginaldo Lopes (PT-MG), Hildo Rocha (MDB-MA), Joaquim        Passarinho (PL-PA), Augusto Coutinho (Republicanos-PE), Moses        Rodrigues (União-CE) e Luiz Gastão (PSD-CE). Arthur Lira criou o        grupo para chegar a um relatório comum, dada a complexidade do        texto.
      A aprovação e a eventual sanção do projeto pelo presidente Luiz        Inácio Lula da Silva não significam que as regras tributárias        mudarão instantaneamente. Haverá um prazo de transição que começa        em 2026 e vai até 2033, quando os tributos atuais sobre o consumo        serão substituídos pelo IVA e pelo Imposto Seletivo.
      Entenda as principais mudanças inseridas pelo grupo de trabalho        na Câmara
      Carnes e cesta básica
      Apesar de o presidente Lula ter defendido a inclusão de carnes        "populares" na cesta básica nacional, que terá isenção de IVA, o        grupo de trabalho deixou esses alimentos fora da cesta. Dessa        forma, as carnes de boi e de frango vão pagar 40% da alíquota        cheia do IVA, como previsto no texto enviado pelo governo.
      Caso a alíquota cheia fique em 26,5%, as carnes pagariam 10,5%        de imposto, assim como diversos alimentos e insumos agropecuários        com alíquota reduzida. Segundo o grupo de trabalho, caso as carnes        fossem incluídas na cesta básica, a alíquota do IVA poderia subir        para até 27,1%, o que tornaria o Brasil o país com a maior        alíquota desse tipo de imposto, superando a Hungria, que cobra        27%.
      Em troca da não inclusão da carne da cesta básica, o        substitutivo sugeriu que a carne e o frango entrem no cashback,        sistema de devolução de imposto em dinheiro a famílias mais        pobres. A reforma tributária prevê a criação desse mecanismo.
      Também enviada no projeto de lei complementar, a regulamentação        do cashback estabeleceu que a devolução de tributos beneficiará        famílias com renda per capita de até meio salário mínimo e as        inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo        Federal (CadÚnico). Quem estiver em uma dessas duas categorias        será automaticamente incluído no programa. Uma lei ordinária        definirá o funcionamento do programa.
      Imposto Seletivo
      Também apelidado de imposto do pecado, o Imposto Seletivo teve        a lista de produtos ampliada pelo grupo de trabalho. O tributo,        que substituirá parcialmente o Imposto sobre Produtos        Industrializados (IPI), passará a incidir sobre carros, incluindo        os elétricos, e apostas.
      Em troca, os parlamentares não incluíram a cobrança sobre        caminhões, armas e munições. Durante a tramitação da PEC, o        Imposto Seletivo sobre armamentos e munições foi retirado do        Imposto Seletivo. Parlamentares e entidades da sociedade civil        tentarão reincluir a tributação sobre os armamentos durante a        tramitação.
      Agora, a lista de produtos com Imposto Seletivo é composta por:
      •    cigarros;
      •    bebidas alcoólicas;
      •    bebidas açucaradas;
      •    embarcações e aeronaves;
      •    extração de minério de ferro, de petróleo e de gás        natural;
      •    apostas físicas e online;
      •    carros, incluindo os elétricos
      Nanoempreendedor
      Os deputados criaram a figura do nanoempreendedor, que não        existe na legislação brasileira. A categoria é composta por        empreendedores que faturam R$ 40,5 mil anualmente (R$ 3.375        mensais) que poderão escolher entre ficar no Simples Nacional,        regime simplificado para micro e pequenas empresas cumulativo (com        taxação em cascata), ou migrar para o IVA, que tem alíquota maior,        mas não é cumulativo.
      Pelo texto proposto, o nanoempreendedor que migrar para o IVA        deixará de recolher para a Previdência Social. Atualmente, o        empreendedor com o menor volume de receitas são os        microempreendedores individuais (MEI), que faturam até R$ 81 mil        anuais e contribuem para a Previdência. Dessa forma, o volume de        receita para definir o nanoempreendedor equivale à metade do MEI.
      Medicamentos e absorventes
      Os deputados retiraram o citrato de sildenafila, medicamento        para impotência sexual popularmente conhecido como Viagra, da        lista de medicamentos com alíquota zero. O princípio ativo passará        a pagar 40% da alíquota cheia. A tadalafila, outro princípio ativo        usado para tratar disfunções eréteis, continuará com o IVA        reduzido, na mesma categoria do Viagra.
      Em contrapartida, os absorventes, que na versão original do        projeto estavam na lista de alíquota reduzida de 40%, passarão        para a alíquota zero.
      A quantidade de medicamentos e produtos para a saúde com        alíquota reduzida e com isenção de IVA foi mantida. Como ocorreram        troca de produtos entre as listas, a quantidade de substâncias        isentas de tributos ficou em 383 e a quantidade de princípios        ativos com alíquota reduzida permaneceu em 850.
    
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