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| Instalações em gasoduto da NTS (Foto: Divulgação) | 
Usuários da malha de gasodutos da NTS são pegos de surpresa com aumento de 26% nas tarifas da NTS a partir de junho, na entrada do sistema
Por André Ramalho - EPBR
      PIPELINE Sudeste terá choque tarifário na malha de gasodutos da        NTS a partir de junho. Tarifaço pega agentes públicos e privados        de surpresa e implicações concorrenciais preocupam. Magda        Chambriard diz que quer "ajudar a desenvolver o mercado" e que        pode "eventualmente abaixar um pouquinho o preço do gás", desde        que Petrobras mantenha rentabilidade.
      Argentina recorre à Petrobras para contornar crise. Estatal        questiona papel do biometano no transporte urbano. TAG negocia        conexão com Petrobras em Sergipe. ANP adia decisão sobre GNL        small-scale e mais. Confira:
      TARIFAÇO
      Os usuários da malha de gasodutos da NTS, que movimenta o gás        natural nos principais centros de consumo do país, terão um        aumento expressivo nas tarifas a partir de junho.
      O choque tarifário será de 26% na entrada e de 7% na saída do        sistema, para os novos contratos firmes de 2024, na comparação com        os contratos anuais até então vigentes.
      Os mais afetados serão aqueles produtores que injetam o gás na        rede no Tecab (RJ), como Equinor, Galp e Shell – que, juntas,        contrataram a injeção de 1,151 milhão de m3/dia no ponto de        Cabiúnas para este ano. As tarifas no Tecab subiram 22%.
      Conforme antecipado pelo político epbr, serviço de assinatura        exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias), agentes        públicos e privados foram pegos de surpresa, já que a proposta        tarifária inicial da NTS previa uma pequena redução este ano.
      As tarifas, no entanto, tiveram que ser recalculadas devido a        uma frustração na expectativa de oferta e demanda – fruto, segundo        fontes, de uma mudança no perfil de contratação de capacidade da        Petrobras.
      O resultado da oferta de capacidade da NTS acendeu o sinal de        alerta, porque há implicações concorrenciais em jogo e que ainda        estão sendo digeridas.
      Os impactos e as causas (e, por consequência, os vilões) do        tarifaço ainda são avaliados internamente na ANP e por agentes        afetados – concorrentes da Petrobras e consumidores.
      NO AMBIENTE POLÍTICO...
      O tarifaço vem na contramão das promessas do governo de reduzir        os custos de acesso à infraestrutura do gás. No transporte, é da        ordem de US$ 2 o milhão de BTU, de acordo com o Ministério de        Minas e Energia (MME).
      Em abril, na gas week 2024, o ministro Alexandre Silveira        prometeu "regulação firme" para baixar os custos, em especial no        escoamento e processamento. O transporte (10% do custo final do        gás para a indústria) também se insere nesse contexto.
      Numa primeira leitura, entre os agentes do mercado consultados        pela agência epbr, o episódio pode respingar na Petrobras.
      De acordo com os documentos apresentados pela NTS no processo        de oferta, a capacidade de entrada solicitada, na etapa de        manifestação de interesse (não vinculante), ficou 13 milhões de        m³/dia abaixo do cenário de referência para 2024, sobretudo em        Caraguatatuba (Rota 1) e Tecab (Rota 2).
      O cenário foi calculado pela transportadora com base na        movimentação de gás nos últimos dois anos – em sua maior parte,        pela estatal.
      Segundo fontes, as perspectivas de entrada do gás do Rota 3 no        segundo semestre e as incertezas relacionadas à especificação do        gás na UTGCA podem ter pesado na decisão da Petrobras de contratar        menos entrada no Tecab e Caraguatatuba, respectivamente.
      Esta semana, já após a conclusão da oferta de capacidade da        NTS, a ANP manteve a autorização especial (e temporária) que        flexibiliza os teores mínimos de metano na UTGCA. Sem ela, a        Petrobras poderia ter de reduzir a oferta de gás nos próximos        meses. A ANP prorroga a medida a cada quatro meses desde 2020.
      Questionamos à Petrobras se ela confirma – ou nega– ter        manifestado interesse por uma capacidade menor em 2024 (na entrada        em Caraguatatuba e Tecab e na saída em SP), conforme refletido no        processo de oferta de capacidade da NTS. Também perguntamos se o        acordo de redução da flexibilidade, que proporcionou nos últimos        anos a liberação de capacidade disponível no sistema para        terceiros, está sendo renegociado.
      A companhia respondeu: "Todas as informações associadas à        necessidade de reserva de capacidade da Petrobras no sistema de        transporte da NTS foram disponibilizadas para a ANP".
      "Convém esclarecer que a ANP possui, entre suas atribuições, a        de estabelecer os critérios a serem adotados para definição dos        volumes considerados como premissa para os cálculos tarifários das        transportadoras, os quais consideram, inclusive, as necessidades        de reserva de capacidade de todos os usuários".
      A NTS preferiu não comentar. E a ANP não respondeu até o        fechamento da edição. O espaço segue aberto.
      IMPACTO NA CONCORRÊNCIA
      O choque tarifário na malha da NTS é pontual. Em 2025, a        expectativa é que as tarifas caiam 36% em relação a este ano, como        reflexo da aplicação do saldo da conta regulatória – se mantidas        estáveis as demais variáveis projetadas. A descontratação das        térmicas, por exemplo, pode impactar nessa conta.
      O aumento inesperado, contudo, não contribui para a decisão de        clientes migrarem para o mercado livre -- onde o consumidor assume        mais riscos na gestão dos contratos, inclusive de transporte        eventualmente.
      Mexe também com as tarifas de produtos de curto prazo, que são        calculadas com base em multiplicadores sobre os contratos firmes.
      Há, também, implicações concorrenciais em jogo e que ainda não        foram totalmente dimensionadas. O tarifaço no Tecab recai sobre        principais concorrentes da estatal na oferta de gás offshore.
      Além disso, quanto mais os demais agentes pagam pelo sistema,        maior o desconto que a Petrobras tem direito no pagamento dos        contratos legados – conjunto de contratos assinados pela estatal.        como carregadora original dos gasodutos, e que garantem a        remuneração das transportadoras.
      As receitas da NTS não crescem com o aumento das tarifas. Como        parte do TCC com o Cade, de 2019, a estatal, por meio do acordo de        redução da flexibilidade (veja na íntegra, em .pdf), liberou parte        da capacidade disponível do sistema para os demais agentes e,        desde então, as receitas obtidas pela NTS com a contratação dessa        capacidade liberada são descontadas daquilo que a Petrobras tem        que pagar às transportadoras.
      MAGDA DÁ O TOM
      Isso tudo num contexto em que a estatal dá sinais conflitantes        em relação à abertura do mercado. Em outras frentes: a Petrobras        iniciou negociações para reduzir o preço da molécula para os        mercados livre e cativo; e renegociou os termos do TCC com o Cade.
      Esta semana, aliás, em suas primeiras declarações como        presidente da Petrobras, Magda Chambriard tocou em dois pontos        caros às discussões do Gás para Empregar: oferta e preço.
      Ela destacou que quer "ajudar a desenvolver o mercado", diante        da perspectiva de aumento da oferta de gás nacional; e que a        retomada dos investimentos em fertilizantes está inserida num        contexto de ampliação do consumo do gás na matriz energética        brasileira. Mas não a qualquer custo:
      "Não vou fazer isso a qualquer preço. Vou fazer desde que dê        lucro. Mas se eu precisar eventualmente abaixar um pouquinho o        preço do gás para conquistar o mercado e garantir que possa        expandir a produção, está valendo".
      "Desde que dê lucro, desde que a empresa e seus técnicos        entendam que isso é negocialmente vantajoso para a empresa",        afirmou na segunda-feira (27/5), em sua primeira entrevista        coletiva no comando da petroleira.
      Em tempo: sob a gestão de Jean Paul Prates, a Petrobras avançou        num acordo temporário de tolling com a Unigel, para retomar as        operações das fafens de Sergipe e Bahia, mas esbarrou no Tribunal        de Contas da União (TCU).
      Magda Chambriard afirmou que caberá à Petrobras mostrar que        fertilizantes são um bom negócio. "Ninguém aqui vai rasgar        dinheiro", afirmou. "E se o TCU tem dúvida, nós vamos responder às        dúvidas do TCU", completou.
    


