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Perspectivas de funding para startups – um olhar através dos painéis do South Summit – e desdobramentos para os executivos financeiros

O South Summit foi fundado em 2012 na Espanha sob a liderança de Maria Benjumea. A versão brasileira, sediada em Porto alegre, se encontra na 3ª versão. O evento, ocorrido entre os dias 20 e 22 de março, teve a presença de 23,5 mil pessoas de 55 países passando pelo Cais Mauá nos três dias do encontro. Foram mais de 800 speakers e 900 fundos de investimento representados, com um patrimônio sob gestão estimado de US$ 213 bilhões. Este é um evento de empreendedorismo, inovação e tecnologia que reúne startups, investidores, empresários e especialistas em negócios. O objetivo do evento é fomentar o empreendedorismo e conectar startups com investidores e mentores, além de fornecer insights e tendências sobre o mercado.

As startups estão carregadas em inovação com a utilização de tecnologia, na busca por solucionar algum problema existente, de forma escalável, disruptiva e repetível. Em geral, o potencial das soluções propostas por tais empresas impacta na economia e transforma o mercado, através de novas dinâmicas de negócios, tanto em práticas como a inovação aberta, como no desenvolvimento de novas tecnologias, na abertura de novos mercados e na geração de empregos. O estágio inicial de uma startup passa pela validação da ideia e na sequência será necessário levantar capital para que se viabilize a próxima etapa, relativa à tração de mercado e ganho de escala.

O impacto econômico da atuação das startups vem sendo sentido nas esferas locais e nacionais e movimenta montantes bastante expressivos. Em 2021, tivemos o ano recorde de investimentos de venture capital (VC) no Brasil – com pico de mais de US$ 10 bilhões investidos em startups. Em 2022, os montantes somaram por volta de US$ 4,4 bilhões, demonstrando um ajuste da liquidez do mercado, devido à instabilidade econômica. E em 2023, quase US$ 2 bilhões, segundo dados da Distrito (ecossistema de transformação e fomento ao empreendedorismo, operando desde 2018).

O cenário de investimentos em startups no Brasil foi desafiador no último ano, provocando correção nos valuations das empresas, o que incentivou tanto investidores a buscar múltiplos mais realistas, como empreendedores a consolidar negócios mais sólidos e sustentáveis, adotando melhores práticas de governança e maior transparência com seus stakeholders. Outro desafio enfrentado para tais investimento é o aumento da taxa de juros, impactando em um ambiente de maior aversão ao risco, o que pode acabar restringindo o financiamento disponível para investimentos em startups.

Nesse segmento, quanto mais iniciante e arriscado for o estágio da empresa, mais informações serão perseguidas pelos potenciais investidores. Para a tomada de decisão, são avaliadas não só questões inerentes ao uso de tecnologia proprietária, mas também em relação a capacidade de criação de algo novo, que seja disruptivo, bem como o nível de conhecimento do mercado e do negócio por parte dos fundadores. Os empreendedores que almejem acessar investimentos deverão estar envolvidos com estes temas, gerenciando o dia-a-dia das suas startups, sem perder de vista a construção da viabilidade no longo prazo. A busca por investidormesmo em etapas iniciais, reforça a necessidade do constante olhar estratégico, almejando a escalabilidade e a sustentabilidade do negócio. 

Durante o South Summit, além de absorver muito conteúdo inovador e receber atualizações sobre os ecossistemas envolvidos, também procurei me subsidiar de informações com viés financeiro, no intuito de poder discutir e compartilhar no ambiente do IBEF -RS. Ao longo dos três dias do evento ocorreram mais de 30 painéis dedicados a temas relacionado a alternativas de recursos para startups. Assisti algumas conversas com fundos de private equity, VC (tais como Volpe Capital, Riverwood Capital, Warburg Pincus, Unbox Capital, Eb Capital), bancos com linhas de VC (Goldman Sachs, Bradesco e Banco do Brasil) e bancos de fomento (FINEP, BRDE e Badesul). De forma sintética, compartilho algumas conclusões e perspectivas sob as óticas propostas.

Encontrei informações acerca de acesso a capitais por parte das startups em 2024, tendências e exigências para concessão de funding. Os vários painelistas trouxeram mensagens positivas em relação a disponibilização dos recursos para investir, incluindo-se players globais. Os principais setores elencados foram fintechs, saúde, energia, biotecnologia, negócios conectados a transição para baixo carbono, entre outros. Na sequência, a grande pergunta recaiu sobre o que será levado em consideração para que uma startup venha a receber o “cheque”. 

A aprovação da tese de investimentos é o primeiro passo, subsidiando o entendimento de qual problema será solucionado, quais tecnologias envolvidas, quais os concorrentes existentes, quão escalável será a solução e suas perspectivas de rentabilidade. Adicionalmente, de modo geral, os agentes salientaram a importância das competências e atitudes dos fundadores. Em conjunto com a tese, irão testar se os founders conhecem o mercado de atuação e a empresa em relação a seus processos, resultados, pontos fortes e fracos, ou seja, quão focados estão para fazer a tese “virar” e ser bem sucedida. Por fim, relatam que identificar competências de liderança e comunicação nos empreendedores é fundamental. Motivar em ambientes cheios de incertezas faz a diferença, ao compartilhar suas visões deverão conseguir mobilizar as ações de todos os envolvidos em prol dos objetivos traçados para o negócio.

A injeção de capital vem para contribuir com o desenvolvimento ou crescimento da empresa, apostando no seu potencial de retorno.  Esse cenário confirma que a atuação de um gestor financeiro será de grande valia apoiando a estratégia do negócio, visando corroborar à sua sustentabilidade de longo prazo. O acompanhamento dos indicadores de performance, tais como mercado, faturamento e rentabilidade, será um ferramental importante durante a jornada para a tração e ganho de escala por parte da empresa. Dependendo do estágio da empresa, os processos e a equipe deverão ser estruturados do zero. Sua contribuição em relação a boa gestão do fluxo de caixa, dos capitais, de processos financeiros e de indicadores com alinhamento à estratégia, assegurando a transparência na prestação de informação perante a esses stakeholders, se alinha às providências de governança esperadas em startups com investimento.

Concluindo, os painelistas do South Summit discorrem sobre investimentos em startups, afirmando que há recursos disponíveis para investir. Os principais segmentos a serem prospectados são fintechs, saúde, energia, biotecnologia, negócios conectados à transição para baixo carbono, desde que as teses se mostrem escaláveis, disruptivas e repetitivas. Conjugadamente, os founders deverão ter amplo conhecimento de seus mercados e negócio, bem como possuir competências de lideranças capazes de motivar seu entorno, conjugadas ao foco e resiliência para fazer o negócio virar. Assim se confirma espaço importante para gestores financeiros atuarem junto a startups que venham a receber investimentos, contribuindo para a gestão da governança, dos capitais e de indicadores, no intuito de apoiar à tração do negócio e a sua sustentabilidade de longo prazo.

Tulia Brugali – Vice-Presidente do IBEF-RS

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