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Avaliação é de professor da Universidade da Beira Interior
Por Luiz Claudio Ferreira - Repórter da Agência Brasil        | Edição: Aline Leal
      Falseamento de informações, de opiniões, de vozes e até de        rostos. Mentiras que chegam por telas e telinhas, que        multiplicam-se com teorias conspiratórias, com frases cortadas e        datas imprecisas. A desinformação, que se apresenta em diferentes        faces e que representa ameaça concreta às sociedades civilizadas,        tornou-se desafio diário para profissionais da informação,        categoria que celebra, neste domingo (7), o Dia do Jornalista.        Para pesquisadores do tema, trabalhadores dessa área têm a missão        de atuar na linha de frente contra a epidemia desinformativa, mas        têm desafios complexos diários nessa guerra.
      Em entrevista à Agência Brasil, o professor João Canavilhas, da        Universidade da Beira Interior (Portugal) e pesquisador dos        efeitos das novas tecnologias, disse que o jornalismo tem sido o        principal combatente contra a desinformação e grande defensor da        democracia. "Não devemos desligar uma coisa da outra para deixar        claro que a desinformação não é apenas um fenômeno isolado: ele        tem um objetivo específico - manipular as pessoas - e, em última        instância, visa destruir a democracia".  
      Ele explica que algumas plataformas, como as redes sociais e as        agências de checagens também combatem a desinformação. "Podemos        dizer que o jornalismo profissional é o verdadeiro antídoto contra        a desinformação".
      "Não devem atuar sozinhos"
      Segundo a  pesquisadora brasileira Ana Regina Rego,        coordenadora geral da Rede Nacional de Combate à Desinformação        (RNDC), os jornalistas têm responsabilidade nesse combate, mas não        significa que devam atuar sozinhos. "É preciso atuar em sinergia        com outros profissionais, como cientistas de dados, com agentes de        saúde, ou mesmo professores do ensino básico, por exemplo. Eu        acredito muito no jornalismo como instituição no combate à        desinformação", afirma.
      Ana Regina Rego pondera que há, entretanto, um cenário múltiplo        com portais de conteúdos desinformativos e que se utilizam de uma        estética da informação semelhante a do campo do jornalismo        profissional. "Existe uma transformação em curso, que inclui tanto        a questão tecnológica das plataformas e práticas que eram        exclusivas do jornalismo, mas que hoje são compartilhadas em um        espaço em que qualquer pessoa se transformou em um produtor de        conteúdos". 
      De acordo com o professor português João Canavilhas, a classe        profissional está hoje mais ciente do seu papel na sociedade.        "Antes de termos evidências sobre o poder da desinformação - tal        como aconteceu nas eleições americanas ou nas brasileiras - os        jornalistas viam-se como um quarto poder". Mas isso se alterou.        porque a desinformação circula por vários canais e os jornalistas        perceberam que já não basta dominar o seu canal para combater a        desinformação. "Isso obrigou-os a repensar o seu papel e a        encontrar formas de procurar os espaços onde circula a informação        falsa para poderem combater". 
      De acordo com o que avalia a presidente da Federação Nacional        dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, a desinformação se        tornou parte desse ecossistema. "O jornalista, por ter o seu        compromisso com a função social da atividade e, por ter        conhecimento não somente teórico, mas também ético sobre a        profissão, deve ser visto como um combatente natural contra a        desinformação"
      Sob suspeição
      Mas, para João Canavilhas, a imagem do jornalista não é a mesma        para o público, o que seria fruto também de maus exemplos        resultantes da pressa de ser o primeiro a publicar. "Alguns        profissionais deixaram de cumprir os princípios éticos e        deontológicos associados à profissão e, por isso as pessoas, dizem        que 'os jornalistas são todos iguais'. É preciso mostrar que, tal        como em todas as profissões, há bons e maus profissionais".
      A professora brasileira Ana Regina Rego, que atua na        Universidade Federal do Piauí, aponta que existe uma ação de jogar        o jornalismo em uma posição de suspeição. Para conter essa        situação, no entender dela,  o campo jornalístico tem que ser        proativo e revisitar os pilares de construção da sua        confiabilidade. "É necessário trabalhar de forma ética e com        conhecimento mais aprofundado".
      Verificação
      Pesquisadora do tema, a professora Taís Seibt, da Universidade        do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), explica que a ação de        verificação das informações é algo imutável e diferencial para o        jornalismo. "O papel de verificação das informações seria        potencializado para o jornalismo se diferenciar dos outros        discursos, das outras práticas de comunicação no contexto que a        gente vive". 
      De acordo com a professora, o jornalismo de verificação não é        só o de veículos que fazem o fact-checking (checagem de fatos).        "Trata-se de uma ação para reforçar esse princípio como um        elemento do jornalismo em um ecossistema de comunicação saudável        diante das mudanças que a gente está acompanhando".
      A professora Taís Seibt avalia que as ondas de desinformação na        internet mudaram, de alguma forma, o perfil dos jornalistas.        Inclusive,, pelas condições de precarização da atividade e        exigências cada vez maiores com relação a quantidade e qualidade        de publicações. "Isso impõe aos jornalistas vários desafios,        inclusive de se adaptar a novos formatos. Por isso, é necessário        trabalhar a verificação como um elemento-chave", afirma.
      A presidente da Fenaj, Samira de Castro, entende que os        jornalistas passaram a incorporar a checagem como parte do        trabalho diário. "Existem áreas sensíveis à desinformação, como a        cobertura de política, onde há uma desinformação propositada para        fazer sobressair narrativas de interesses de políticos". 
      Outro campo que ela cita é a área da saúde, que se mostrou        muito sensível à desinformação por conta dos movimentos antivacina        e anticiência. "Por incrível que pareça, nós estamos numa era em        que a informação é um valor inalienável, mas o excesso de        informação não ilumina o cidadão", avalia. Em contraposição, a        informação aprofundada é o que faria a diferença e que deveria ser        objetivo dos profissionais.
      Dificuldades
      Taís Seibt  indica que o desafio foi potencializado, por        exemplo, pelo avanço das tecnologias de inteligência artificial        com uma capacidade cada vez maior de simular realidades que não        existem. "E com muita técnica e refino. Então é difícil para o        jornalista, se posicionar como esse mediador qualificado para        verificar". As dificuldades ficaram evidentes durante a pandemia        de covid-19, quando a desinformação foi rotineira e era preciso        indicar as instruções corretas para proporcionar segurança aos        cidadãos.
      "A gente precisa, como cidadão, ter em quem se apoiar. O        jornalismo historicamente exerceu esse papel em diferentes        contextos, mudanças e crises. Estamos em um período em que esse        debate está muito forte, mas o jornalismo continua fundamental e        vai continuar sendo necessário".
      Formação de cidadãos
      Segundo o professor João Canavilhas, para controlar essas        situações de desinformação, é necessário que existam leis e        entidades reguladoras para conter as mentiras. "Em Portugal        chama-se ERC. Mas é nas plataformas que está o grande problema.        Algumas são fechadas e, mesmo nas abertas, torna-se cada vez mais        difícil controlar a desinformação. Claro que as redes sociais        tentam fazer o seu trabalho, mas os algoritmos ainda são muito        limitados a identificar informação falsa". 
      Para Canavilhas, só um controle humano consegue bons índices de        eficácia, mas seria impossível fazê-lo permanentemente dado o        fluxo informativo. É por isso que se torna tão difícil conseguir        controlar a desinformação nas redes sociais. "A alternativa é a        literacia midiática, ou seja, introduzir estas matérias nas        escolas e dar cursos livres para que todos os cidadãos percebam a        diferença entre a informação jornalística e o 'papo furado' das        redes"
    
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