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| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil | 
Projeto Trauma deve ser instalado no Ministério da Saúde até 2026
Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
      No Brasil, lesões e a violência têm sido classificadas como a        terceira ou quarta principal causa de morte da população,        superadas apenas por doenças cardiovasculares, câncer e doenças        respiratórias, segundo dados do Programa de Apoio ao        Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde        (Proadi-SUS).
      O Projeto Trauma - Tecnologia de Rápido Acesso de Dados        Unificados para Mitigação da Acidentalidade -, idealizado pelo        epidemiologista da equipe de Trauma do Hospital Israelita Albert        Einstein, Bruno Zocca, entra agora na fase de aperfeiçoamento, até        2026, quando a principal ferramenta - um banco de dados integrado        - será instalada no Ministério da Saúde (MS). A ferramenta        permitirá acesso a dados integrados sobre acidentes e lesões        ocorridos em todo o país.
      O projeto foi desenvolvido dentro do Programa de Apoio ao        Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde        (Proadi-SUS), no qual são usados valores de isenção tributária        para desenvolver avanços para o SUS. O médico Bruno Zocca explicou        à Agência Brasil, na última quarta-feira (13), que o objetivo é        fazer vigilância em saúde.
      No primeiro triênio, experimental, compreendido entre 2021 e        2023, foram acessados dados de alguns locais que viraram parceiros        do projeto, para testar tecnologia, sistema e ver se o objetivo        pode ser alcançado. "O nosso objetivo é ter a capacidade de contar        a história de um acidente ou violência com um mínimo de esforço e        recurso possível, só usando os sistemas de informação já ativos e        em uso pelo Ministério da Saúde.
      A ideia é trazer os dados de vários sistemas de informação        diferentes para um banco de dados integrado. Nesse banco        integrado, serão normalizados e organizados alguns conceitos como        homem e mulher, feminino e masculino, padronizando-os. Outra coisa        é identificar a mesma pessoa em sistemas diferentes.
      Ferramenta
      O médico afirmou que se trata de uma iniciativa "diferente de        tudo que o Ministério da Saúde já fez".  O projeto terminou o        primeiro triênio com uma ferramenta funcional que vai se        desenvolver em dois grandes eixos.
      O primeiro é continuar aperfeiçoando a ferramenta. "Trazer mais        locais e mais dados para continuar testando se a ferramenta        responde às nossas necessidades. O segundo eixo é passar essa        ferramenta efetivamente para dentro do ministério", disse Bruno        Zocca.
      De acordo com o Proadi-SUS, atualmente, as informações são        disponibilizadas para o SUS por meio de vários sistemas de        informação distintos e que não estão conectados. O projeto vai        mudar essa realidade e, a longo prazo, vai apoiar na redução da        morbidade e da mortalidade associadas às lesões.
      Quando estiver instalado no Ministério da Saúde, os dados serão        acessados de forma centralizada pelo Departamento de Informática        do SUS (Datasus) e ficarão disponíveis para todo o Brasil. De        acordo com o idealizador o bando integrado poderá ser acessado por        gestores nos níveis municipal, estadual e federal.
      "O gestor municipal poderá ver que existe uma esquina com muito        acidente de trânsito e colocar um semáforo; o gestor estadual        poderá ver que tem um quarteirão ou bairro com muitos casos de        violência graves ou não graves, e colocar uma viatura de polícia        ali. E o governo federal poderá usar a ferramenta tanto para        avaliar suas políticas vigentes como para desenhar novas políticas        públicas. Por isso, nossa expectativa é que o projeto Trauma,        apesar do nosso parceiro ser o governo federal, o Ministério da        Saúde, seja uma ferramenta útil para todos os níveis de gestão,        para pesquisa, para organizações não governamentais (ONGs), para        quem tiver interesse em acessar os dados integrados."
      Internalização
      O médico destacou que o projeto vai apoiar o ministério em sua        internalização, com os devidos acordos institucionais e buscas por        financiamento. Há uma série de fatores positivos secundários que        vão ocorrer por meio do projeto. "O ministério faz auditorias,        internações, investigação de óbito para ver se a causa registrada        está adequada. O Trauma pode apoiar muitas iniciativas        secundárias".
      O objetivo principal é a vigilância em saúde. "É um banco de        dados muito grande e poderoso. Temos conversado com muitos        parceiros dentro e fora do ministério sobre outros potenciais        usos". Secretarias de Segurança Pública poderão usar os dados, bem        como equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e        dos bombeiros para melhorar a adinâmica do atendimento pré        hospitalar e de ambulância, entre outros segmentos.
      A ferramenta estará pronta para ser instalada no Ministério da        Saúde em 2026.
      "Nosso objetivo é que, ao final do triênio, já esteja pronta a        versão final, instalada dentro do ministério, para uso aberto de        todos os entes interessados no banco de dados. Quem precisar        desses dados vai ter entrada na ferramenta. Inclusive estamos        desenhando diferentes entradas para diferentes usuários. Uma das        nuances, e que é também um dos desafios, é tomar cuidado com a        segurança das informações. Por isso, na hora da liberação para        acesso público, deverão ser tomados muitos cuidados com a        segurança das informações para manusear os dados e conduzi-los de        um lado para outro. Essa continuará sendo uma das preocupações",        disse  Zocca.
      Segundo o especialista, a intenção é que todo o país tenha o        acesso à ferramenta nos próximos anos para produção de análises de        situação em saúde, de modo a permitir, a longo prazo, o        monitoramento de 12 milhões de internações, 4 bilhões de        atendimentos ambulatoriais e mais de 1,5 milhão de óbitos para        cada ano.
      Investimento
      Bruno Zocca informou que a fonte de financiamento para        desenvolvimento do Projeto Trauma é o próprio Proadi-SUS, que        reúne seis hospitais sem fins lucrativos, considerados referência        em qualidade médico-assistencial e gestão. São eles o Hospital        Alemão Oswaldo Cruz, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, HCor,        Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento e        Hospital Sírio-Libanês. Os recursos do Proadi-SUS advêm da        imunidade fiscal dos hospitais participantes.
      No primeiro triênio de desenvolvimento do projeto, os        investimentos alcançaram R$ 6,5 milhões. Para a segunda etapa, de        2024 a 2026, a previsão de gastos é de R$ 7,9 milhões.
      Proadi-SUS
      O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema        Único de Saúde (Proadi-SUS) foi criado em 2009 com o propósito de        apoiar e aprimorar o SUS por meio de projetos de capacitação de        recursos humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de        tecnologias, gestão e assistência especializada demandados pelo        Ministério da Saúde.
      Os projetos levam à população a expertise dos hospitais em        iniciativas que atendem necessidades do SUS. Entre os principais        benefícios do programa, destacam-se a redução de filas de espera;        qualificação de profissionais; pesquisas do interesse da saúde        pública para necessidades atuais da população brasileira; gestão        do cuidado apoiada por inteligência artificial e melhoria da        gestão de hospitais públicos e filantrópicos em todo o Brasil.
      Lesões e a violência têm sido classificadas como a terceira ou        quarta principal causa de morte no país, superadas apenas pelas        doenças cardiovasculares e pelo câncer até 2015, pelas doenças        respiratórias entre 2016 e 2019, e pela covid-19 durante a        pandemia. Em 2021, ocorreram 149.322 mortes atribuídas a lesões no        Brasil, o que equivale a cerca de 70 mortes por 100 mil        brasileiros. Dentre essas causas, prevaleceram os homicídios        (30,5%), seguidos pelos acidentes de trânsito (23,5%), outras        causas acidentais (23,2%) e suicídios (10,4%). Dados fornecidos        pelo Proadi-SUS, por meio de sua assessoria de imprensa, destacam        a importância das lesões entre jovens e homens na mortalidade        prematura e incapacidades, o que as torna uma questão prioritária        no país.
    
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