
Produção do imunizante vai receber do banco R$ 30 milhões
O desenvolvimento de uma vacina inovadora contra a covid-19,        que utiliza tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), pela Fundação        Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai receber R$ 30 milhões não reembolsáveis        do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),        além do investimento de R$ 21 milhões captados de parceiros        privados.
      A Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em        Saúde (Fiotec), que presta serviços de apoio logístico,        administrativo e gestão financeira aos projetos desenvolvidos pela        Fiocruz, é responsável pela criação da nova vacina.
      Os recursos empregados pelo BNDES correspondem à conclusão do        desenvolvimento experimental do imunizante, à produção de lotes        piloto para ensaios clínicos e à realização dos estudos clínicos        de Fase 1. Nesta primeira etapa, o projeto busca demonstrar a        segurança do uso do imunizante em humanos. "A expectativa da        Fiocruz é de que a vacina esteja disponível no Sistema Único de        Saúde daqui a 3 anos", informou o BNDES em nota publicada na        página do banco.
      De acordo com a instituição, os seus recursos têm origem no        Fundo de Desenvolvimento Técnico Científico (BNDES Funtec), que        oferece "apoio financeiro não reembolsável a projetos de pesquisa        aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação executados por        instituições tecnológicas, de acordo com os focos de atuação        definidos pelo banco". O bom desempenho da vacina nos estudos        clínicos, que vai validar a tecnologia de RNAm desenvolvida pela        Fiocruz, determinará a perspectiva de desenvolvimento de outras        vacinas pela fundação.
      Para o superintendente da Área de Desenvolvimento Produtivo,        Inovação e Comércio Exterior do BNDES, João Paulo Pieroni, a        plataforma tecnológica desenvolvida pela Fiocruz é uma importante        conquista do sistema de saúde brasileiro, "na medida em que torna        o país mais preparado para o enfrentamento de futuras emergências        de saúde pública, com mais autonomia e mais celeridade no        desenvolvimento de novas vacinas".
      RNAm
      O BNDES destaca que a tecnologia de RNAm é considerada uma        revolução na medicina, porque foi comprovada a eficácia no combate        à covid-19 e ainda se mostra como tecnologia potencialmente mais        segura, rápida e eficiente para o desenvolvimento de novas vacinas        e tratamentos. "Diferentemente das vacinas tradicionais, que        utilizam vírus inativado (como a vacina da gripe) ou atenuado        (como a do sarampo), as vacinas de RNAm fornecem uma 'instrução'        genética para o sistema imunológico produzir anticorpos", apontou        o BNDES na nota.
      Na avaliação da líder científica e gerente de projeto da        Fiocruz, Patrícia Cristina Neves, a principal vantagem da vacina        com este tipo de tecnologia é ser produtiva. "A vacina        tradicional, de sarampo por exemplo, carrega o vírus vivo, só que        mais fraco. Para obter o vírus enfraquecido, há exigência de um        sistema produtivo mais caro e mais difícil, o que também demanda        maior biossegurança para conter o agente."
      Na pandemia de covid-19, as vacinas de RNAm ensinam o corpo        humano a combater o coronavírus, ao simular o mesmo processo de        exposição ao vírus, mas sem causar a doença. O resultado é que o        agente não precisa ser cultivado em laboratório. Os cientistas        precisam apenas "decifrar seu código genético para produzir em        escala industrial". Com este desempenho, a tecnologia de RNAm é        considerada globalmente como a solução mais adequada para        enfrentar emergências em saúde pública.
      O valor mais acessível de desenvolvimento e o alto rendimento        com a produção de muitas doses por litro são outras vantagens        dessa tecnologia. "A validação preliminar da tecnologia é        esperada, abrindo caminho para fornecer ao Sistema Único de Saúde        (SUS) uma vacina de menor custo. Além disso, a partir dela será        possível desenvolver novas vacinas e medicamentos", completou o        BNDES.
      Segundo o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e        Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon, a instituição parte        do princípio de que o investimento na vacina de RNAm da Fiocruz        contribui para aumentar a autonomia do Brasil na área de saúde.        "Hoje há uma corrida global pela incorporação do RNAm na produção        de vacinas, muito concentrada nos Estados Unidos, China, Alemanha        e Dinamarca", destacou.
      Produção
      A expectativa é que a vacina a ser produzida no Instituto de        Tecnologia em Imunobiológicos BioManguinhos/Fiocruz transforme a        fundação no principal centro para o desenvolvimento e produção de        vacinas de RNAm na América Latina.
      Na visão do coordenador-geral de captação de recursos da        Fiocruz, Luis Donadio, como projeto estratégico para o país, o        principal ganho é o domínio tecnológico para a produção. "Aí que        está o real valor agregado da vacina de RNAm. Dominar uma        tecnologia na fronteira do conhecimento é algo raro no Brasil",        destacou, acrescentando que há também o acordo da Fiocruz com a        Organização Mundial da Saúde (OMS) para transferir a tecnologia        para produção da vacina contra a covid-19 para países da América        Latina e Caribe.
      O BNDES informou ainda que os pesquisadores responsáveis pelo        desenvolvimento da plataforma de RNAm na Fiocruz já analisam a        possibilidade de sua aplicação em vacinas preventivas para outras        doenças. Neste caso, os cientistas consideram que o imunizante        poderá ser utilizado contra raiva, influenza, zika, HIV, malária,        tuberculose, citomegalovírus e vírus respiratório sincicial (VRS –        bronquiolite) e em aplicações terapêuticas para tratamento de        câncer, doenças genéticas raras, alergias e doenças autoimunes.
    

